20 outubro 2009

AGORA JÁ POSSO MORRER FELIZ


editado pelo jornal de Sintra em 1989.
vitor marques.



Durante os anos tenho enviado artigos ao "jornal de Sintra" e felizmente vejo-os aparecer em varias edições.
Um dos que eu nunca esqueci,foi publicado em 5 de Outubro de 1974, e chamava-se "agora já posso morrer feliz", dedicado ao Sr José Alfredo da Costa Azevedo,grande amigo de Sintra.
Tinha eu 17 anos,necessitava na revisão da escrita pelo meu amigo sr António Medina,para depois ser publicado na secção: Dos principiantes. vamos relembra-lo:

DOS PRINCIPIANTES


AGORA JÁ POSSO MORRER FELIZ


Surgiu o glorioso 25 de Abril e os acontecimentos ocorridos neste histórico dia provocaram,nos cérebros de homens cansados de sofrer as consequências do governo deposto,a maior satisfação e alegria. Na vila de Sintra havia também muitos desses homens firmes e esperançosos.
Perto do palácio nacional,junto á papelaria silva,juntaram-se grupos entusiasmados e eufóricos. comentando alegremente os acontecimentos da ditosa alvorada da tão desejada liberdade que as gloriosas forças armadas,em tão feliz hora,souberam restituir aos democratas portugueses.
Confesso que me senti tocado pelo entusiasmo delirante da massa humana que via a minha volta.E que gostei de tal contagio,que fez bastante luz no meu espírito moço e acanhado a entrar agora na caminhada da vida.
Num desses agrupamentos,reparei - e fixei - a alta satisfação de um homem, de voz rouca, afirma: - Agora já posso morrer feliz!
Como eu compreendo bem que estava em presença de uma alma sofredora que nunca perdera a sua fé no triunfo do seu idealismo!
Um sentimento que eu não sabia que era possível existir! Estava, portanto, em presença de um firme democrata!
- Agora já posso morrer feliz!
Uma frase de um sintrense de alma e coração - José Alfredo da Costa Azevedo - que despertou em mim um respeito e um sentimento que nunca mais esquecerei!


vitor marques


Hoje,passados tantos anos, começo a pensar que " Zé Alfredo" vai ser outro grande homem,designado para grandes homenagens,pelo povo da sua Sintra,depois de morto e o mais chocante,é que não morrerá feliz.
A sua Sintra, ainda está acorrentada, ainda não chegou cá o 25 de Abril.O seu povo continua silencioso, deixando um Zé Alfredo ou outro lutar sozinho, durante anos.
Teremos de pedir auxilio a Vizela?
Para dar a Sintra os homens competentes,amantes nascidos aqui,e que tenham sobretudo «coragem».
Quando nos será entregue Sintra? quando deixará Sintra ser dos outros?
Zé Alfredo seria mais feliz,na ponta final da sua vida,se notasse coragem dos habitantes da sua terra - Que desses o grito «chega». - mas com 81 anos,lá continua a reclamar o abuso, de tentarem beliscar a imagem da vila velha, e o seu património fantástico.
Quando é que o povo grita: Porque o atraso da recuperação do centro histórico?Aonde estavam quando construiriam o hotel Tivoli e destruíram tanto património? para quando a construção do parque de estacionamento nos baixos da volta do ducho? Para quando a conservação dos palácios,castelos,conventos,parques, Para receber a cada vez maior quantidade de turismo. Os visitantes após terem os palácios encerrados, e seguidamente o comercio, andam perdidos,e têm de partir ate ao Estoril para viver a noite.
- Em Sintra só de passagem?
nem cinema existe!

Amigo José Alfredo da Costa,passados 15 anos da publicação deste meu artigo,dedicado a si, e como comentário, acho que Portugal andou... Mas algumas terras de Portugal, como Sintra continuaram paradas,e se assim continuar não acredito que morra feliz.



Vítor marques ( os amigos da vila velha )

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